O influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, foi denunciado nesta sexta-feira (17/10) pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) por envolvimento em rifas ilegais, exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro. A acusação é resultado de uma investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e é independente do processo que levou à sua prisão durante a operação “Narco Bet”, da Polícia Federal, realizada na última terça-feira (14/10).
Segundo o Ministério Público, Buzeira e o também influenciador Rudny Alan Damasceno, o “Rudny da Hornet”, usavam suas redes sociais para promover sorteios e rifas sem autorização legal, movimentando milhões de reais e tentando dar aparência de legalidade aos lucros obtidos.
Rifas ilegais nas redes sociais
A denúncia aponta que, entre outubro de 2020 e junho de 2023, Buzeira “promoveu loteria sem autorização legal” e “explorou jogo de azar em local acessível ao público, especialmente por meio das redes sociais”.
As rifas ofereciam motocicletas, carros e prêmios em dinheiro, divulgados em perfis com milhões de seguidores. De acordo com o GAECO, os interessados eram direcionados a sites especializados em sorteios, onde realizavam transferências bancárias ou PIX diretamente para contas dos influenciadores ou de empresas ligadas a eles.
O MPSP afirma que Buzeira lucrou cerca de R$ 700 mil em um período de um ano e meio com essas práticas. Em depoimento, o próprio influenciador admitiu ter promovido diversas rifas digitais e disse que os ganhadores podiam escolher entre receber o prêmio ou o valor equivalente em dinheiro.
Manipulação de seguidores e ostentação
Mensagens obtidas em perícia mostram que Buzeira pressionava seus seguidores a participar das rifas, e até simulava sorteios para aumentar as vendas. Em um dos diálogos interceptados, ele detalha o lucro obtido:
“Rifa valor total 300 mil | Ganhador 100 mil | Taxa 30 mil | Lucro 170 mil dividido por 2 = 85 mil pra cada.”
Em outra conversa, o influenciador revela a estratégia de manipulação:
“Hoje eu vou meter o loko […] como se fosse hoje o sorteio […] porém vou fazer bastante gente comprar achando que é hoje.”
Além disso, o GAECO destacou que Buzeira usava sua imagem de “sucesso” para atrair mais apostadores, ostentando carros de luxo e até simulando a compra de um Porsche 911 — veículo que, segundo a investigação, estava em nome de um vizinho.
Atividades consideradas ilegais pelo Ministério da Fazenda
A Subsecretaria de Regulação e Concorrência do Ministério da Fazenda confirmou que Buzeira e Rudny nunca tiveram autorização para realizar sorteios. Em nota, o órgão afirmou que “inexiste autorização legal, de modo geral, para operação de sorteios como rifas no país”, reforçando que a empresa Buzeira Digital teve o pedido de autorização negado por envolver rifas ilegais.
Acusação de lavagem de dinheiro
O Ministério Público também acusa Buzeira de lavagem de dinheiro, alegando que ele criou uma empresa com capital social de R$ 30 milhões — valor considerado incompatível com sua renda declarada.
A investigação revelou movimentações semelhantes nas contas de Rudny, que teria recebido mais de R$ 10,9 milhões sem identificação da origem de parte dos depósitos.
Enquadramento legal
Os dois influenciadores foram denunciados com base nos artigos 50 e 51 da Lei das Contravenções Penais, que tratam da exploração de jogos de azar e loterias ilegais, além do artigo 1º da Lei nº 9.613/1998, que prevê punição para lavagem de dinheiro.
O documento do MPSP ressalta a influência digital dos acusados e o alto alcance de suas publicações, destacando o potencial lucrativo das rifas promovidas a milhões de seguidores.
Com a denúncia protocolada, cabe agora à Justiça decidir se aceita ou não as acusações.
Prisão na operação “Narco Bet”
Buzeira foi preso pela Polícia Federal na operação “Narco Bet”, que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas. Além dele, o contador Rodrigo Morgado e outras nove pessoas também foram detidas.
Segundo informações obtidas com exclusividade pelo portal LeoDias, Buzeira seria um dos principais beneficiários de recursos ilícitos movimentados no esquema.
Apesar das semelhanças, o processo da Polícia Federal e a denúncia do Ministério Público são casos distintos, embora ambos apontem para práticas financeiras irregulares e uso indevido da influência digital.






